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sábado, 9 de maio de 2015


 
EFEMÉRIDES, MESQUINHEZ E MORTE

Os russos ainda estão a enterrar os restos dos seus mortos, como aconteceu em quase mil funerais realizados há dias nos arredores de São Petersburgo, mas o senhor secretário-geral das Nações Unidas, a mando do senhor Obama, porque nada se passa no Palácio de Vidro sem o aval deste, foi celebrar a derrota dos nazis a Kiev na companhia dos novos nazis. Quero crer que o envio do pau-mandado Ban Ki-moon se deveu à falta de coragem do senhor Obama para assumir até ao fim a provocação que fez aos 25 milhões de mortos soviéticos, e também aos mais de 400 mil compatriotas mortos para que o nazismo não passasse, e deslocar-se em pessoa a Kiev para abraçar os herdeiros de Stepan Bandera, o bandido que colaborou nas chacinas de Hitler e agora tutelam o regime oficial ucraniano. Coragem, seja política seja física, é o que normalmente falta àqueles que da guerra só conhecem a parte de mandar matar. Barack Obama incarna na perfeição esse tipo de mandante e por isso, mesmo não tendo estado em corpo em Kiev, foi representado a preceito, em insensibilidade e arbitrariedade, através do seu imediato a quem foi entregue a desacreditada ONU. Mais desacreditada agora depois de o seu mais alto representante ter celebrado o fim da guerra, acontecimento que determinou o nascimento da organização, ao lado dos herdeiros dos que provocaram a tragédia e estão na calha para repetir a façanha. Com o beneplácito da dita cuja.
Se lermos os escritos e paleios que a chamada comunicação de referência vai debitando, todos muito certinhos e afinados no mote de assinalar o fim da guerra como se não tivesse havido guerra, apuramos que se escreve e fala sobre tudo, desde o senhor Putin se sentir isolado, coitado, no palanque presidencial assistindo à passagem de temíveis armas com que ameaça a pacífica NATO, obrigada a defender-se ali tão pertinho, nas suas fronteiras; passando pela sismografia que atinge territórios onde terão de passar maléficos gasodutos; até às patéticas perorações sobre a Crimeia – onde vem ao de cima a tacanhez histórica dos autores - mas não se fala sobre a guerra.
Em boa verdade, continuando a ler e a escutar essas figuras tão referentes, antes Putin tivesse ficado verdadeiramente isolado no palanque; mas afinal teve companhia, a do líder chinês, e logo numa altura em que a Rússia e a China conversam muito, tratam de cooperação mutuamente vantajosa, fazem até ameaçadoras manobras militares conjuntas no Mediterrâneo, tudo isto acontecendo pela primeira vez, sabendo-se que há sempre uma primeira vez para tudo, ideia que não deveria valer para este contexto. O facto de a Rússia, então União Soviética, e a China terem sofrido três quartos dos mortos da guerra contra o nazismo, 45 milhões de vítimas (45 milhões, quatro vezes e meia a população de Portugal, mais ou menos a população de Espanha) são pormenores que não contam para nada numa coisa que, afinal, acabou já lá vão 70 anos mesmo que muitas familiares ainda hoje andem à procura dos seus mortos para lhes dar sepultura.
Por isso, a centralização das comemorações da derrota do nazismo sob a tutela oficial da ONU junto do regime revanchista polaco e das suas criaturas neonazis ucranianas, abençoadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos da América, não é apenas uma via mesquinha para tentar reescrever a história. É um insulto grave, um atentado à memória de todos os seres humanos que sofreram as consequências do flagelo, incluindo, repete-se, os mais de 400 mil norte-americanos que pagaram com a vida o combate à loucura nazi.
Para o senhor presidente Obama, celebrar a derrota do nazismo é desenvolver uma política de “polo asiático” que assenta na ressurreição do militarismo nacionalista nipónico; é dar largas ao revanchismo nazi na Europa manipulando o velho mas não gasto artifício propagandístico da “ameaça russa”. O senhor presidente Obama não vê qualquer defeito nesta estratégia. Afinal ele só manda matar.
 

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