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domingo, 26 de julho de 2015

BODO AOS RICOS


Dizem as notícias que o governo de Portugal se prepara para pagar mais 53 milhões de euros aos colégios privados, em cima dos milhões que já esbanja, para que criem mais de 600 turmas, em cima das que já existem, destinadas a acolher alunos do sistema de educação pública. O senhor ministro Crato é um homem generoso e de bem, visivelmente preocupado com o futuro dos jovens portugueses, os seus dotes para a equitação e outras práticas de bom-tom almejadas pela generalidade das famílias.
Acrescentam as notícias que muitas dessas turmas funcionarão em estabelecimentos privados vizinhos de escolas públicas, as quais ficarão cada vez mais vazias de professores e estarão desde já condenadas a um presente penoso e a um futuro sem futuro.
Quem quer educação que a pague, é o lema do governo e do seu ministro das escolas privadas. Embora o pagamento, eventualmente, não seja suportado na íntegra pelos pais, sê-lo-á, em última análise, pelos contribuintes, sujeitos a uma carga fiscal criminosa para que se desenvolvam processos de engorda do sector privado, onde nem sequer está assegurada a qualidade da educação. Porque a parte formada por meia dúzia de instituições com nível aceitável, vocacionadas para acolher os filhos da elite financeira e da corrupção, não passa de um ilhéu no meio de um oceano poluído de escolas e escolinhas criadas para viver à custa das tetas do Estado, com a agravante de, em muitos casos, imporem ensino confessional num país que é oficialmente laico.
Esta situação é mais uma pincelada forte no retrato degradante do Portugal dos tempos que correm. O governo em exercício, como parte de um dito “arco da governação” temente à senhora Merkel e às hordas financeiras cujos interesses ela manda aplicar, não descansará enquanto todo o Estado não for privatizado, enquanto os elementares serviços a prestar aos cidadãos não sejam pagos e a bom preço para nutrir as contas dos donos de Portugal bem acondicionadas no estrangeiro, de preferência em paraísos fiscais.
A Constituição da República, no quadro do respeito estrito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, determina o direito de todos à saúde e à educação. O governo em exercício, atacando ostensivamente a Constituição, vem degradando a saúde a níveis anteriores ao Sistema Nacional de Saúde e, por vias indirectas, vai expulsando das escolas aqueles que são os filhos das famílias – esmagadoramente maioritárias no todo nacional – vítimas da cruel austeridade.
O recurso do governo ao ensino privado não é uma medida supletiva decorrente de circunstâncias existentes e destinada a suprir carências. Nada disso: é uma opção ideológica praticada em prejuízo do Estado e dos contribuintes, em benefício de uma clientela que medra à sombra do sistema corrupto de privatização do país. Enquanto isso, o governo ataca os professores como se fossem párias, obrigando as multidões de desempregados e desempregadas a mendigarem trabalho em escolas privadas, onde serão sujeitos às epidemias da moda desde o trabalho precário ao jogo sinistro da ameaça do despedimento arbitrário e do desemprego. A provar esta opção está o facto escabroso de o governo pagar turmas em colégios privados situados nas imediações das escolas públicas, assim deixando uma dica importante: multipliquem-se escolas privadas, onde quer que seja, porque o Estado não deixará de as abastecer.
Este ano serão mais de 600 novas turmas e mais 53 milhões de euros do nosso dinheiro deitados para o lixo. Imaginem quantas turmas serão para o ano e quantos mais milhões serão inutilizados se uma qualquer versão do “arco da governação” for reabastecida com o combustível do voto popular.


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