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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O RETORNO DA MORDAÇA FRANQUISTA


 
O senhor Mariano Rajoy é o franquismo sem Franco, é um herdeiro mal polido dos golpistas de 36, a mistura tenebrosa de Escrivá de Balaguer com Milton Friedman, um fantasma errante do Vale de Los Caídos que continua a assombrar os espanhóis, um rasto fedorento da Santa Inquisição.
É sabido que os fascismos ibéricos souberam prontamente cobrir-se com os mantos do pluralismo político de maneira a recuperarem as condições para restaurarem as essências dos velhos poderes em versões modernizadas, imitações cada vez menos fiéis da democracia. Como se não tivesse havido uma revolução em Portugal ou uma “transição” em Espanha. Não é difícil identificar onde se acoitaram as mentalidades fascistoides em Portugal e em Espanha. Sendo que neste país, por não ter havido um corte revolucionário, o Partido Popular nem precisou de se travestir de “centrista” ou até de “social-democrata”; bastou-lhe sinalizar que era de “direita democrática” para os franquistas nele pousarem os olhos e se acomodarem.
Agora, como sinal dos tempos em que se torna cada vez menos necessário invocar a democracia porque esta e a “liberdade do mercado” se tornaram sinónimos, o senhor Rajoy e o seu PP nem se dão ao trabalho de disfarçar a veia onde lhes corre o sangue do autoritarismo, assim activada porque os sinais de que a vontade popular e o Partido Popular são como azeite e água, não se misturam, são cada vez mais evidentes.
O senhor Mariano Rajoy, feito poder que pretende eternizar-se a par de uma monarquia corrupta que é ilegítima há pelo menos 80 anos e, quiçá, como o próprio Generalíssimo, aproveita o seu poder parlamentar para se armar com leis que minam o poder democrático. A mais recente, entrada em vigor a 1 de Julho, é a que inclui medidas para garantir a “segurança do Estado” – esse Estado reduzido ao desempenho penoso das funções que os senhores privados e a igreja não desejam, por não serem negócios lucrativos – e que, pelo seu conteúdo, ficou popularmente conhecida como “lei da mordaça”.
“Mordaça” porque inibe os cidadãos de expressarem publicamente as suas opiniões sobre os comportamentos das entidades policiais. Em boa verdade é mais do que uma “lei da mordaça” – é um hino ao Estado policial. Uma mulher que publicou no Facebook uma fotografia de uma viatura policial estacionada abusivamente num lugar para deficientes foi multada em 800 euros; um historiador teve problemas com as autoridades por ter declarado, no uso do seu direito de crítica e de liberdade de expressão, que serviços policiais se comportaram como “uma casta de desocupados”. Nos termos da nova lei é proibido convocar manifestações através das redes sociais – foi assim que nasceu o movimento Podemos – e fazer concentrações junto de lugares públicos, como o Parlamento e as instalações de poder local. E ai de quem publicar fotografias de agentes policiais em acção!
Apesar dos incentivos à eternização no governo que tem recebido como recompensa pela submissão aos credores e aos gangs da especulação financeira, mau grado a muralha de autoritarismo atrás da qual se tem barricado, o senhor Rajoy, mestres e lacaios têm pela frente povos de um país a quem ainda devem uma República, a quem continuam a pretender negar a plena afirmação dos seus direitos nacionais, povos cansados de desemprego, de arbitrariedade, de manipulação e dos medos cultivados para os acorrentar.
Pense-se nesta “lei da mordaça”, nas tentativas de restauração de um Estado policial, comparem-se com a ira crescente dos povos de Espanha e não será difícil deduzir que os sinais dados pelo governo neofranquista são mais de desespero que de força.
Os povos de Espanha estão longe de se conformarem frente a estes franquistas tão mal disfarçados que nem o bigode lhes falta.

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