A NATO, ou
seja, o braço armado do império norte-americano, acaba de engolir mais um
Estado europeu, o Montenegro, sendo que para abocanhar toda a antiga Jugoslávia
faltam o que resta da Sérvia e a Antiga República Jugoslava da Macedónia.
Em termos
formais, trata-se apenas de um “convite” dos falcões do Pentágono ao pequeno
Estado banhado pelo Adriático e cercado pela Bósnia, a Sérvia, a Croácia e a
Albânia, mas como o presidente montenegrino se declarou “orgulhoso” perante o
chamamento este é um dos tais casos em que podem fazer-se prognósticos antes do
fim do jogo, sem risco de errar. Com a inclusão do Montenegro na teia de bases
militares imperiais formada pelos países da Aliança Atlântica, são já 12 as
nações e regiões do antigo “mundo socialista”, com ou sem influência soviética,
engolidas pelo expansionismo do Pentágono desde que a NATO ficou sozinha na
arena mundial: Albânia, Croácia, Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, Estónia,
Letónia, Lituânia, Hungria, Polónia e República Checa – mais de 40 por cento do
número de membros da estrutura. Não será exagero somar a esta lista os
territórios da Bósnia-Herzegovina, do Kosovo, e da região Oeste da Ucrânia,
simples protectorados da aliança.
Ouvindo os
analistas que tudo sabem dir-se-á que o “convite” ao Montenegro é uma espécie
de gesto generoso e de boa vontade dos generais da NATO para com um país
minúsculo, montanhoso, economicamente dependente e sem qualquer interesse
militar, a não ser representar mais uma espinha cravada nas gargantas da Rússia
e da Sérvia. Talvez os estrategos se tenham esquecido de olhar os mapas, ou
então fazem deles uma leitura descuidada. A integração do Montenegro fecha o
Adriático como lago atlantista, facilita rotas entre o Mediterrâneo e a Europa
Central e de Leste contornando agora a Sérvia, tal como já acontecia com a
Macedónia (efeito do Kosovo), fecha o conjunto de países formado pela Grécia,
Albânia, Montenegro, Bósnia, Croácia e Eslovénia como um arco da NATO. Em
termos geoestratégicos liquida-se o que restava da antiga Jugoslávia a favor da
aliança expansionista. Milhões de mortos e feridos depois, no seguimento de
chacinas sanguinárias resultantes de guerras artificiais e induzidas a partir
do exterior, a inclusão de facto do Montenegro na NATO é o passo decisivo para
a anexação da Península Balcânica pelo insaciável atlantismo.
Tal como por
exemplo o Kosovo – a quem países da União Europeia pedem agora que não sustente
e não dissemine o jihadismo, manhoso eufemismo para não dizer terrorismo – o Montenegro
de hoje tem tudo para ser membro da NATO. Não consta que o “orgulhoso”
presidente Filip Vujanovic se prenda com o formalismo de organizar um referendo
popular sobre o assunto, sobretudo depois do susto com a consulta sobre a independência,
declarada em 2006 por meia dúzia de votos duvidosos depois de sucessivos
adiamentos, por causa das sondagens desfavoráveis. Além disso, o regime escolheu
o euro como moeda depois de ter usado o marco durante parte do período em que a
Jugoslávia se fragmentou. Também a corrupção praticada pela casta dominante e o
governo do primeiro-ministro Dukanovic, sobretudo o chamado “Escândalo Moldavo”
– tráfico de mulheres com epicentro no território montenegrino – parece não
incomodar os dirigentes atlantistas e dos Estados membros da democrática
aliança. O que é natural em entidades que conhecem as actividades do vizinho e
islamita Kosovo nos ramos do apoio ao terrorismo, tráfico de drogas e comércio
clandestino de órgãos humanos, tudo a bem da liberdade e da democracia.
Não é
difícil nem abusivo estabelecer paralelos entre o novo mapa dos Balcãs e o
também designado “novo mapa” que membros da NATO, com os Estados Unidos à
cabeça, procuram estabelecer no Médio Oriente. O desmantelamento e a destruição
de países como o Iraque, a Líbia e a Síria reflecte o mesmo método usado contra
a antiga Jugoslávia logo que ruiu o muro de Berlim: declaração de guerras
artificiais sem olhar a meios, e muito menos à vida humana, para concretizar os
fins da estratégia imperial de expansão e dominação. No Médio Oriente,
Afeganistão incluído – onde a NATO deu o dito por não dito e decidiu agora
manter 12 mil ocupantes -, o número global de mortos já atingiu quatro milhões;
quatro milhões foi também o número de desalojados na antiga Jugoslávia, onde se
registaram pelo menos 140 mil mortos.
Enfim, o
combate “civilizacional” tem os seus danos colaterais, a tanto monta a defesa intransigente
do “nosso modo de vida” assumido pela valente Aliança Atlântica de motu
próprio, sem que os cidadãos sejam tidos e achados. O que aconteceu na
Jugoslávia é disso uma lição de história moderna.
Sem comentários:
Enviar um comentário