Membro da Guarda Nacional da Ucrânia (foto AP)
Dezembro de 2015. A NATO e o governo instalado em Kiev pelas
principais potências da aliança e da União Europeia anunciaram o “roteiro” para
a integração da Ucrânia na organização militar comandada operacionalmente pelo
Pentágono. O cerco europeu da Rússia pelas forças armadas às ordens dos
interesses económicos, financeiros e militares dos Estados Unidos da América
aperta-se; e quando se diz cerco está a falar-se de um passo fundamental de uma
estratégia de guerra.
A palavra “roteiro” é enganadora, especialmente neste caso.
Faria supor que ainda existem algumas etapas e percorrer para que a integração seja
plena. Não é isso que acontece: falta apenas anunciar a adesão, na sequência de
um “referendo” em relação ao qual as sondagens prevêem desde já um rotundo “sim”.
Simples formalidades, portanto.
Antes que isso se concretize, o “roteiro” determina, desde
já, a integração das forças armadas e da indústria militar da Ucrânia na
estrutura da NATO – o que realmente interessa nestes casos. A partir de agora,
afirma a Aliança Atlântica, a Ucrânia passa a ser “um dos mais sólidos
parceiros da aliança, firmemente empenhado em realizar a democracia e a
legalidade”.
Democracia, legalidade: duas palavras que dizem tudo sobre
este acordo, que não passa da institucionalização de mais um protectorado
político-militar da NATO e da União Europeia, a exemplo do que sucede no
Kosovo, na Bósnia-Herzegovina e vem ocorrendo no Montenegro.
Quanto à democracia ucraniana, são muitos os exemplos de
como é plena e vigorosa. O Partido Comunista acaba de ser ilegalizado, os
símbolos comunistas proibidos, o acto de cantar a Internacional é punido com
cinco a dez anos de prisão, jornalistas são assassinados por esquadrões da
morte, foram encerrados dezenas de jornais, milhares de websites. No país onde
foram reabilitados os carniceiros que colaboraram nas chacinas cometidas pelas
tropas de Hitler, a área de defesa e de segurança é agora dirigida pela
componente governamental nazi, escondida nas várias máscaras do Sector de
Direita, da União Patriótica e dos grupos de assalto do tipo SA hitleriano, dos
quais o mais conhecido é o Batalhão Azov.
O “roteiro” estabelece, portanto, a integração de forças
organizadas nazis na estrutura militar da NATO, para defesa da “democracia” e
da “legalidade”. No fundo, trata-se da formalização de uma cooperação que
existe há muito. Em 2006, por exemplo, grupos de jovens ucranianos que vieram a
destacar-se nos dias de terror na Praça Maidan – quando foi declarada a “libertação”
do país – foram treinados em práticas terroristas numa base da NATO, na
Estónia. Também não é novidade que centenas de instrutores da 173ª divisão
aerotransportada da NATO, colocada em Vicenza, Itália, se deslocaram à Ucrânia
para treinar os bandos nazis integrados na Guarda Nacional criada pelo novo
regime. O assunto nem sequer é tabu para os súbditos da NATO em Kiev. Há menos
de um ano, num programa da TV alemã, o embaixador do regime ucraniano em
Berlim, Andriy Melnik, explicou que grupos neonazis como o Batalhão Azov, o
Batalhão Donbass e o Sector de Direita integram de facto a Guarda Nacional, e
com pleno direito, uma vez que sem eles o exército russo tinha chegado muito
mais longe.
Teorização que nos leva da democracia para a legalidade
subjacente à integração de Kiev na NATO. Sendo a Ucrânia um país em guerra
civil, decorrente da limpeza étnica e cultural que o regime tenta efectuar nas
regiões de língua russa, supõe-se que a integração da estrutura militar
ucraniana na NATO terá como objectivo completar esse trabalho. Ou seja, a NATO
achar-se-á dotada da “legalidade” para levar o poder de Kiev a todo o país,
procurando dizimar a oposição dos ucranianos que têm o direito democrático de
resistir às transformações arbitrárias impostas à sombra do golpe da Praça
Maidan, na Primavera de 2014. Uma limpeza étnica que começou, aliás, com o
massacre na Casa dos Sindicatos de Odessa, em 2 de Maio de 2014, cometido pelos
bandos de assalto nazis – hoje na Guarda Nacional – massacre esse a que as estruturas
dominantes no mundo fizeram vistas cegas e orelhas moucas.
Hordas nazis integradas na estrutura militar da NATO. Aquilo
que durante décadas foi secreto, clandestino, conhecido como “Gládio” e outras
designações, é hoje assumido à luz do dia, em nome da democracia e da
legalidade. E dirigentes da União Europeia curvam-se perante os avanços do
fascismo, até em países que sofreram este regime na carne. Matteo Renzi,
primeiro ministro de Itália que dizem ser “de esquerda”, saúda o presidente
golpista ucraniano, Piotr Poroshenko, pela sua “sábia liderança”. Não há maior
facilitadora do triunfo dos porcos que a prosápia amnésica dos irresponsáveis.
Mas porque é que os jornais e as televisões mal falam nestes temas quentes?
ResponderEliminarAinda bem que vamos tendo alguma informação através de alguns blogs, como é o caso deste, mas é muito pouco. Poucas serão as pessoas com acesso a este tipo de informação; a maior parte anda autenticamente a dormir.
Enquanto não percebermos que tem de haver uma voz diferente na comunicação social não se vai a parte nenhuma. Os partidos politicos mesmo os de esquerda deviam aproveitar a campanha para denunciar esta organização de 'malfeitores'. Vamos a ver se alguém o faz.
E esta a conjuntura a analisar e a tirar ilações de prevenção !
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